domingo, abril 04, 2010

a Aprendizagem


Sento-me à janela muitas vezes. Olho vezes sem conta para os mesmos horizontes. Procuro neles o conforto de algo familiar e descubro neles, sempre, algo de novo. É assim “A Aprendizagem”. Como uma viagem que começa na janela do meu pensamento, mas que pode ser de qualquer um. É inevitável para qualquer pessoa que em determinado momento queira sair para o mundo, descobrir a vida – a sua vida. Nesse momento, levamos na bagagem a aprendizagem que nos deram e enfrentamos a novidade com a crença de que tudo será diferente, melhor. Este é o momento em que nos definimos. Acredito que é um passo que só podemos dar sozinhos. Claro que muitas vezes acabamos por descobrir que a miragem era mais poética quando vista da janela, que lá chegados ela é exactamente aquilo que se esperava. No campo há ervas e árvores e gente igual à outra. Na cidade há muita gente, prédios e casas de várias cores. Como “Lisboa com suas casas”. Casas com janelas e gente por trás delas. Quem são? Na descoberta de nós próprios esquecemo-nos dos outros.Trocamos o nós pelo eu numa insónia viciada. Neste momento, descemos à rua e cruzamo-nos com eles. Encontramos de tudo. Gente cansada, gente com fome, gente sozinha – muita gente sozinha – gente feliz e despreocupada, gente abastada, gente que rouba e é roubada, gente ignorante e outra brilhante. Neste piscar de olhos penso que o mundo seria um lugar melhor se passássemos para a prática a consciência de que a aprendizagem de cada um representa não só a emancipação do próprio como a evolução de todos. Agarro-me ao melhor. À noção de que existem por aí um sem fim de “Mariazinhas”, de pessoas sensíveis que percepcionam o mundo de uma forma mágica e que têm a extraordinária capacidade e generosidade de partilhar essa sua visão do mundo com os outros. São artistas, de tantas áreas diferentes, que todos os dias trabalham para que a nossa existência não seja apenas um memória empoeirada num álbum de fotografias. Claro que não basta o pensar, ele de pouco serviria sem o sentir. Estar apaixonado, como o estrondo e a luz num festejo com fogos de artifício, descobrir o amor e vivê-lo com a “Agulha do Tempo” a girar sobre nós, dar continuidade à vida, perdê-lo…Deixamos o tempo passar, apagamos essa “Luz Breve” dentro de nós e voltamos à vida.. Sento-me novamente à janela. Em que hei-de pensar?

in Aprendizagem - Margarida Pinto

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