terça-feira, abril 08, 2008

7 Dias, 7 Semanas



"Como estás?", realmente eu não sabia como responder áquela pergunta, os últimos dias tinham sido bastante atribulados e intensos mas agora eu estava bem, devia responder simplesmente isso? "Bem"? A Alice esperava impaciente do outro lado do telefone enquanto eu fazia cálculos mentais para encontrar uma resposta que definisse o meu estado de momento. A Alice sabia mais agora do que ninguém, acho que revelei tudo, acho que mais exposto eu não podia estar e mesmo assim eu não sentia isso, não me sentia exposto. Nada havia a fazer, não podia dizer que me enganei, que estava confuso ou até voltar atrás no que disse, restava fugir para um lugar bem longe, para me afastar dessa sensação, a exposição, mas não. Não me sentia exposto.

"João Paulo?", o limite de paciência tinha sido atingido e a Alice persistia em ouvir uma resposta da minha parte. Percebi que embora não soubesse tinha de lhe oferecer uma resposta. "Não sei Alice.", percebi que mais uma vez não podia ter sido mais sincero, mas era uma óptima questão essa, "como estás?", naquele dia não era um bom dia para respostas, tal como o dia em que desisti de viver, esse não era um bom dia para respostas, esse era mais um dia que "Como estás?" soava a desconhecido, era um dia em que não sabia o que fazia, apenas continuava a deslizar a lâmina sobre a minha pele e observava como se eu de um estranho me tratasse. Ainda hoje não sei porque o fiz, já lá vão dois pares de meses e desde aí acho que sou uma pessoa bastante renovada, não mudada, renovada.

"Que tens?", a Alice continuava a insistir numa conversa, não tinha nada, era isso mesmo, estava vazio, não tinha nada e pela primeira vez tive medo do que vinha a seguir. Tive medo que se cansassem de mim, que se esquecessem que eu existo e me deixassem cair no ridiculo do esquecimento. Que gostassem tanto de mim e tornassem isso uma simples rotina, tentando um dia variar e deixarem de me dizer "Como estás?"

"Estou cansado Alice!" Menti-lhe, não estava cansado, estava vazio e isso torna-nos pesados, torna as respostas difíceis de sair, pois não existem, o vazio não deixa nada a dizer, não deixa todas as palavras presas na garganta gritando por sair, tal como quando guardamos um segredo. "Cansado?", eu ouvi o tom, a Alice sabia que eu não estava cansado, ela conhecia-me melhor que algum outro e talvez visse naquele momento que não havia resposta, que não havia nada.

"Estarei sempre aqui Alice, a uma chamada de distância...", e nesse momento desliguei o telefone sem deixar mais alguma pergunta me atacar, aquele não era um bom dia para respostas.

P.s.: 7 Days, 7 Weeks - dEUS