quarta-feira, maio 21, 2008

Talvez Sejas Tu A Salvar-me


Tenho medo, ultimamente tenho muito medo. Não medo do escuro, do fundo da cama, do guarda-fatos ou até das sombras da noite. Tenho medo, ultimamente tenho muito medo do tempo. Olho o relógio e parece-me congelado, é como se o tempo não passasse, quando não olho aposto que o safado dos segundos não anda, fugindo à sua função, arrastando-se só por obrigação lentamente quando lhe mando um olhar de desespero, um olhar mergulhado no vazio.
Não quero crescer, não quero ser adulto e sujeitar-me às responsabilidades várias a que a vida nos obriga, não quero mudar mais, estou tão bem assim. Quero que o tempo pare e que tudo se mantenha, mas juro que por agora dava jeito que ele andasse mais rápido. É desta controvérsia que tenho, de querer parar o tempo e de no mesmo momento desejar que ele passe mais rápido.
Só tenho medo do tempo. O ponteiro dá um saltinho, faltam cerca de trinta minutos. Trinta eternos e intermináveis minutos, cheios de nada, cheios de controvérsia enquanto rebolo em mim. Quero gritar, quero desvanecer na sombra da noite, ser levado pelos meus atormentos, quero ser levado com o tempo, tal como sou, não crescido, não mudado, tal como sou. Quero ser escravo, submisso de alguém, quero que me ordenem, quero que me façam acreditar na autoridade renegada. Quero ser livre, fazer tudo o que quero, eu quero gritar... Eu quero acreditar que desta vez tenho a certeza, quero fazer de mim Romeu e encontrar o que procuro, quero ter a certeza que encontrei os meus enlevos sem pensar nos violentos fins últimos. Romeu morre, Julieta morre, quem me convence que eles apenas não tiveram tempo de se fartar um do outro? Quem? Ninguém... Mas também não preciso, eu acredito. Acredito no medo e no amor eterno de Romeu e Julieta.
Dez últimos míseros minutos, continuo a rebolar, continuo com medo, quem me culpa por escolher o caminho mais fácil? Quem me culpa por negar amor verdadeiro por amor fácil? Quem me culpa por fazer o melhor para mim? Que importa que ame alguém se escolhi ficar com alguém que me estima? Nada importa mais, ninguém me culpa. Vou fugir, vou desvanecer na noite...
Acabou o tempo. O meu telemóvel dá sinais de vida. É a Julieta... Esperei uma noite inteira pela primeira mensagem do dia da Julieta , são oito da manhã. O tempo não passava, mas passou... O tempo passa, vou crescer, mudar, quer eu queira, quer não.

P.s.: Wonderwall - Ryan Adams

quinta-feira, maio 15, 2008

Centro das Atenções


"Alice, acho que estou a apaixonar-me", nem acredito que realmente tinha dito aquilo, estava a precipitar-me, eu continuava a sentir algo pelo passado da minha vida, continuava a suster a respiração ao ver aqueles olhos negros, mas acho que me estava a apaixonar de novo. Mais dificil que esquecer é admitir que nos voltamos a apaixonar e acho que era isso que me estava a acontecer, mas não! Isto não era nada como da última vez, não se comparava minimamente ao holocausto que ia dentro de mim no dia em que percebi que estava realmente pedrado de amor por aqueles olhos negros, se me estava a apaixonar desta vez, da ultima vez não me apaixonei, ultrapassei bastante isso. Isto não era nada como da outra vez.
"A sério?" Olhava-me com uma cara surpreendida mas bastante alegre, "Até que enfim!", até que enfim?, eu não queria aquilo, queria que a minha velha história de repente virasse Bela Adormecida e eu fosse acordado por aqueles olhos negros em mim, era mesmo isso que eu queria, que a Alice dissesse "Até que enfim" por eu finalmente ter ficado junto de quem sempre quis, mas eu sei, acabou. É isso que tenho de perceber, que acabou, de vez.
"Não tenho bem a certeza do que estou a sentir, é uma pessoa que se preocupa e importa, acho que é isso de que estou á procura." Sim, quero que se preocupem comigo realmente, talvez por ter sido bastante ignorado antes, quero mesmo que se importem onde estou e o que estou a fazer a toda a hora, se estou feliz, triste ou entalado, que façam tudo para me ver bem. Tenho parâmetros bastante altos, mas juro que antes não era assim, fiquei bastante exigente e desidratado e por isso preciso que me façam isso, que me hidratem.
"O que importa é que é alguém novo João! E quem é?", aquela pergunta não, aquela pergunta não. Não queria responder, não estava pronto para lhe oferecer aquela resposta, não para já. "Alguém, não conheces! Debatemos isso mais tarde, sim?", o meu tom era bastante atrapalhado, nunca conseguia enganar a Alice, era impossivel. "Já percebi, quando quiseres dizes-me, não precisas de tentar escapar!"
É por isto que gosto tanto dela, é como o papel, nunca exige e está sempre lá, era dela que precisava ao meu lado para enfrentar o que vinha aí, é ela que eu preciso para desabafar de todos os "loopings" da minha vida. "Tenho medo Alice...", "Medo de quê?", "Medo de me apaixonar!".

P.s.: Center Of Attention - Jackson Waters