terça-feira, fevereiro 23, 2010

Memórias Futuristas #6

Voltamos ao ponto em que o Rogério me apanhou a mentir e olhava agora para mim com cara de quem tinha trincado a língua dezenas de vezes seguidas. Se tivesse uma pá juro que tinha cavado um buraco para me enfiar, sinceramente aquela cara dele soava-me a problemas - fiquei ali a olhá-lo sem saber o que fazer até que ele vem ter comigo
- Ricardo vamos para casa, já! - Bem, a voz ameaçadora dele deu-me um certo arrepio e uma excitação tal que me apeteceu obedecer, no entanto bati o pé
- Não vou a lado nenhum Rogério. - Vai Ricardo, mostra quem manda
- Ai vais vais!
Agarrou-me no braço de uma forma dolorosa e começou a arrastar-me quase pelo ar pelo meio da multidão. Ele tinha razão, mas estava a deixar-me humilhado em frente a toda a gente e das minhas amigas
- Rogério larga-me, ouviste?
- Não ias ficar em casa a estudar?
- Umas amigas minhas vieram cá e pediram-me para as trazer...
- Porque não me avisaste?
- Eu tenho a minha vida e os meus amigos
- Toma lá as chaves, põe-te já a andar para o carro!
Ali estava o fabuloso Q7 à minha espera, ainda pensei em pegar nele e fugir mas depois lembrei-me das gatas que estavam à minha espera
- Eu estou com as minhas amigas, vai-te embora Rogério!
- Liga-lhes, eu vou busca-las. Vai já para o carro! Viste bem como aqueles tipos todos estavam a olhar para ti?
- Oh Rogério!
- És tão inocente...
Não tanto como tu pensas - não disse mas pensei - fui para dentro do carro e fiz birra na viagem toda, nem lhe dirigi a palavra. Elas estavam encantadas com irmos para casa naquele grande automóvel e eu fiquei até contente por elas terem conhecido o Rogério, mas quando chegamos a casa mandei-o embora: continuamos a festa sozinhos em casa. Estava mesmo envergonhado, mas elas até nem se importaram; de qualquer forma o Rogério que se prepare: isto não fica assim...

in Lisboa - Memórias Futuristas

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu acho que finalmente o Rogério demonstrou não ser tão ingénuo como todos o pintavam. É normal que ele tenha ciúmes não achas Ricardo? E se ele te fizesse o mesmo? Tiveste muita sorte em ele não te ter dado umas palmadas a frente de toda a gente, mas eu acho que ele gosta de mais de ti para isso. Sabes, cá para mim agora que o mandaste embora ele vai para casa chorar, e tu ainda vais perceber que secalhar foste injusto. Ele é emotivo e sensivel, apenas não tem o seu lado racional tão desenvolvido. Tudo passa...

Ana Paula*

Andreia disse...

Ai ai Ricardo. Não deverias ter mentido ao Rogério. Já devias saber que a mentira tem perna curta.
Ficaste envergonhado, mas não pela razão que deverias. Fazer birra por uma coisa daquelas depois de lhe teres mentido e ainda "seduzido" outros :s
Devias era ter ficado envergonhado por isso, pois tens imensa sorte por teres alguém que goste assim tanto de ti e devias ter dado mais valor isso.
És mais um exemplo da sociedade actual: tudo gira em torno do sexo, do dinheiro e do poder e sentimentos reais, como o amor; valores como o respeito e a verdade; foram postos de parte.

Vera Lúcia disse...

Bem, as memórias futuristas que tu escreves são episódios que retratam por um lado a realidade e por outro a crueldade. Em todos eles, abordas a mesma ideia (homossexualidade, noite, mentira, beleza, medo e “os perigos da solidão na noite ”).
Na minha visão, retratas o mundo em que nos inserimos hoje em dia! Com isto quero dizer, que vivemos numa sociedade em que o preconceito relativamente à homossexualidade reside (evidenciando isso no comportamento da Ana) e como é óbvio aqueles que se acham uns machos de primeira e que inicialmente são logo os primeiros a mandar “bitaites”, quando se deparam com um mostro, como o Rogério, o medo apodera-se deles e eles passam despercebidos. Outra das ideias abordada é a dos jovens de hoje em dia só pensarem na noite, na prioridade de mostrar a beleza e chamar atenção, começando aqui os vícios (retratados quando te remetes para o Bairro Alto). Também falas da mentira, e aqui reflectes os efeitos que estas podem causar, concluindo assim, que a mentira não é um caminho aconselhado a seguir, refutando que se deve utilizar sempre a verdade por mais que ela magoe. Por último, relato, o acto mais cruel e horrendo que se pode sofrer (ser atacada na escuridão por um bando de inocentes onde só o prazer lhes corre nas veias).
Em suma, quero mostrar-te o meu encanto por toda a tua escrita. Rediges muitíssimo bem e consegues transmitir a cada um, uma ideia diferente. Tornando os teus textos bastante subjectivos e emotivos. Cativando assim, a leitura por parte das pessoas. Espero ansiosamente pelo novo episódio.

P.S – (vê lá se editas o teu livro, quero ser a primeira a receber um autografo, no 1º exemplar)