sábado, novembro 27, 2010

Memórias Futuristas #2.06

Assim que ele saiu do elevador vieram-me montes de perguntas à cabeça que queria formular e lançar-lhe, mas acima disso apareceu-me uma dúvida pertinente: como haveria eu de o cumprimentar? E tantas voltas dei à cabeça que antes que queimasse um fusível estendi-lhe a mão para que ele a pudesse apertar. Ignorou-a, vergou-se ligeiramente para a frente e beijou-me a testa (ele sabe perfeitamente como isso me deixa sentir bem) - sem mais demoras deixei-o entrar no apartamento e depois de ele ter dado um olá às miúdas fomos até ao quarto.
Era mesmo esquisito tê-lo ali, de novo num quarto (que mesmo que outro) meu e não o poder ter-me nos seus braços protegido como antigamente... As palavras fartavam-se de me fugir e eu estava com medo de não conseguir dizer nada até ele quebrar o gelo
-Precisava de ver-te, de falar contigo nem que fosse pela última vez...
-Desculpa Rogério, mas não sei mesmo que te dizer. Desculpa teres descoberto da existência do Gerard na minha vida daquela maneira!
-Se não fosse daquela, iria ser doutra e qualquer uma seria má.
-Há uma coisa que tenho de perguntar antes de dizeres porque aqui vieste em concreto!
-Chuta.
E eu queria chutar com toda a força, mas havia algo a prender-me o pé e as palavras ardiam-me na boca sem as conseguir pôr cá para fora.
-A sério, diz lá!
-Tu não mataste o João, ele está vivo!
-Como sabes?
-Ele apareceu na noite de estreia por lá: a pedir que o perdoasse...
-Aquele filho da...
-Ele disse que nunca mais o iria voltar a ver! Mas continuo sem perceber o que aconteceu naquela noite...
-Bem, como percebeste eu nunca o cheguei a matar... Vontade não me faltava mas...
-Mas o quê?
-Depois de te deixar no carro, naquela noite, voltei lá em cima e após três socos contive-me e amarrei-o à cama apenas. No dia seguinte voltei lá para busca-lo e levei-o para ele ser internado numa clínica psiquiátrica. Eu não podia sujar as minhas mãos, eu não sou esse tipo de homem.
-Não entendo!
-O que não entendes?
-Não entendo porque o fizeste morto aos meus olhos!
-Para te proteger Ricardo!
-Mas foi isso que fez com que me afastasse de ti...
-Sim, eu sei. Entende uma coisa: por mais que me custasse, eu preferia perder-te a teres que viver uma vida no teu medo. Tu estavas perturbado, traumatizado até.
-Então, foi tudo por mim?
-Que outra razão? Só tu Ricardo. Eu vivia para ti.
Naquele momento, por mais estúpido que parecesse eu comecei a chorar, porque aquilo que eu via era verdadeiro amor, mais do que alguma vez ele me tinha dado.
-Desculpa ter-te mentido.
E veio abraçar-me e eu a empurra-lo para trás com
-Agora é tarde demais.
Ele não se deu por vencido e
-Volta Ricardo. Vem viver comigo, traz as miúdas contigo!
E eu não podia
-Agora eu tenho o Gerard, se isso significa alguma coisa. Agora a minha vida é aqui e a tua há-de ser sempre em Lisboa.
-Foi por isso que aqui vim hoje.
-Isso o quê?
-Eu fui transferido. Eu vivo cá no Porto agora e estou decidido a lutar tudo de novo por ti, porque aonde tu estiveres é onde a minha vida há-de ser!

in Porto - Memórias Futuristas

3 comentários:

Vera Matias disse...

Eu também quero um Rogério, caramba! :')

Ana Luísa disse...

Também eu! Ele é um amor.
Até queria que eu fosse viver com ele! xD

Anónimo disse...

Muito bom mesmo,eu vivo para ti :)