terça-feira, junho 01, 2010

Memórias Futuristas #18


Ali estava eu assustado com o barulho que todo aquele bater na porta provocava e mesmo assim pouco me conseguia mexer já; de repente todo aquele esbanjar de som latente na minha cabeça parou - acalmando-me mas ainda assim - despertando-me uma dúvida: porque havia ele parado? A porta estava trancada (isso dava-me uma segurança) e comecei a imaginar que tinha o Rogério ali ao meu lado - a agarrar-me e a proteger-me de tudo isto que me estava a acontecer; sempre me achei capaz de resolver todos os meus problemas, sempre me achei capaz e independente (sem precisar de um namorado que me defendesse), mas desta vez tudo tinha fugido ao meu controlo - desta vez eu não podia fazer as coisas por mim: eu precisava dele e tinha a certeza que nunca o desejei tanto como agora.
O movimento que senti do outro lado da porta fez uma febre subir dentro de mim, (já havia entendido porque o barulho tinha parado!) - ao que parece havia mais que uma chave, ou as fechaduras das portas eram equivalentes - a chave da porta caiu no chão e havia outra a tentar abrir a porta do outro lado: tarefa que foi fácil e rapidamente concretizada.
Éramos dois naquele compartimento e eu mal conseguia vê-lo (ao longe, enevoado)
-João, por favor...
Assim que disse isto levei uma patada na barriga do pé dele e encolhi-me como um bicho de conta ou como um feto dentro da sua bolsa; depois desta veio outra e outra e outra ainda, sentia alguma dor ainda que o meu corpo estivesse meio anestesiado
-É para aprenderes a não seres mau para mim Ricardinho...
Senti-o puxar-me o cabelo em direcção a ele e a lamber-me a cara como se do meu cão se tratasse, senti-o a manejar o meu corpo mole com movimentos bruscos e mandando-me contra a parede vezes que não me consigo recordar e gritando-me sempre
-Até perceberes que este agora é o lugar onde pertences!
Assim que me começou a puxar os calções fora e comigo já meio a dormir ouviu-se um grande encontrão na porta de entrada, ouviram-se dois, ouviram-se três e por fim ouviu-se a porta a ceder com a facilidade com que acontece nos filmes e senti as mãos do João saírem de cima de mim, senti uns braços erguerem-me no colo e lembro-me ainda de ver a figura do Rogério a acartar-me para fora de todo aquele cenário. Os lábios dele tocaram-me e caí desmaiado ao som das suas palavras
-Eu vou tirar-te daqui Ricardo, eu vou mata-lo por ti...

in Lisboa - Memórias Futuristas

2 comentários:

Afonso Arribança disse...

wow, que forte o texto :o

R. Branco disse...

é a emoção dos últimos episódios !