terça-feira, maio 18, 2010

Memórias Futuristas #16


O público estava ao rubro - não era como nas outras noites apagado: era barulhento, activo e participativo e alguns da primeira fila até sabiam algumas das letras de cor. No final ele era uma pessoa mais feliz (mais realizado) - havia uma mulher loira que o esperava com um cartão de visita
-Contacta-me
Leu o cartão. Era uma editora que estava interessada neles (faltou pouco para saltar de alegria, mas por responsabilidade não o fez). Enquanto o Diogo se tornava iludido com tudo que estava para vir, eu estava no outro lado da cidade a tentar fazer-me entender ao João (que talvez tenha interpretado mal as minhas intenções)
-Eu sei que me desejas, mas não queres desiludir o teu namoradito
-Não João, eu não quero nada contigo a não ser uma coisa estritamente profissional. Começo a ficar cansado que não entendas, porque se assim for pego no meu livro e levo-o a outras freguesias.
-Pronto, pronto. Não quero que percas a oportunidade. Aceitas uma Margarita?
Lá aceitei. Os morangos e o champanhe estavam a ser digeridos já e uma Margarita não me ia embebedar - bebo uma, assino o contrato e ponho-me a andar.
Lá veio ele com a bebida e com a pilha de nervos que estava mandei-a quase toda duma assentada - mas não era desta que ele trazia o contrato: estivemos à conversa. Falamos sobre a capa, falamos do sucesso, falamos de dinheiro e da responsabilidade do acontecimento - se houver sucesso com o primeiro há prazos para entregar o segundo.
Comecei a relatar com a conversa, mas comecei a sentir o relaxamento exagerado, comecei a sentir as pernas leves e a cara dormente, o chão fugia ás voltas e a cabeça pesava-me
-Estás bem Ricardo?
Não, eu não estava nada bem
-Que me fizeste?
-Pensei que uma pessoa como tu sabia que não se deveria aceitar uma bebida que não se viu ser preparada
E dito isto riu-se vitorioso olhando para mim como um predador olha a sua presa.

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