" Já não fazia sentido. Os varões, as modelos, as bailarinas, as gajas de sábado à noite. Não fazia sentido a coca, as luzes, os ácidos de sexta à noite. Quando acordei hoje de manhã nada desta merda fazia sentido e era tudo tão diferente. Como eu pensava, como eu sentia, como eu falava. Estava cansado. “Pareces cansado João”. Mas eu nunca estou cansado. Fodasse, não percebo o que se passa. Enrolei um charro. Queria aquele meu momento de paz. Fumar aquilo não fazia sentido. Não havia momento de paz. Eu não queria estar sozinho. Eu não queria fumar sozinho. Pousei o charro. Queria água. Não havia água. Acabou. Bebi coca-cola. Não me apetecia álcool. Pousei o copo e fiz o tradicional “Ah”. Já não tinha piada. Não era engraçado falar sozinho. Não tinha piada olhar-me no espelho e fazer figuras. Encolhi os ombros. Procurei algo pela casa. Não sabia o que era. Mas procurei. Não encontrei. Estava sozinho. A casa estava vazia. Pela primeira vez. Eu estava realmente sozinho."
João Afonso
in Amor Combate de Ricardo Branco
4 comentários:
Nunca vais estar sozinho como o João Afonso - eu não deixo. E sim, a minha máquina vai recordar muitos momentos nossos, afinal é daquelas máquinas que pretendo guardar para sempre - assim como os nossos momentos.
OBS. que fotografia bonita essa x)
Estou à espera de ver esse livro finalmente publicado x)
Não foi a minha fotografia preferida da secção mas achei todas adoráveis, artísticas, fantásticas...
Gostei do excerto, quem sabe um dia um puto qualquer vai odiar-te por ter que estudar o Amor Combate na escola... Só não me parece que ele te fosse odiar, de todo! xD
Bravo!!*
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